Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, talvez o mais instigante e versátil poeta simbolista, teve sua obra consagrada como fundadora da poesia moderna. Apesar da efêmera carreira literária, sua produção inspirou o movimento dos “decadentes”e dos Surrealistas além de influenciar músicos e literatos até nossos dias. Com grande talento, capacidade de inovação e vocação experimental, em apenas quatro anosvariou entre três estilos poéticos completamente diferentes.
O grande poeta, ficcionista e dramaturgo francês, Victor Hugo, o descrevia como um “Shakespeare adolescente”.
A precocidade de Rimbaud deixava seus professores estupefatos, especialmente por sua incrível capacidade de traduzir a poesia latina. Aos quinze anos de idade Rimbaud já ganhara vários concursos de poemas em latim, realizados entre diversas Escolas e começava a escrever poemas em francês, sua língua natal. Desde os tempos de colégio, anunciava aos colegas que quando adulto seria explorador.
Toda a sua obra poética é realizada antes dos vinte anos, quando se retira para a África em uma expedição que põe fim à sua carreira de poeta e cristaliza a fama de peregrino que adquiriu muito cedo. Incansável andarilho, sua trajetória errante pelas cidades francesas e por diversos países da Europa, fez com que outro consagrado nome das artes, o poeta Stéphane Mallarmé o batizasse de “viajante notável”.
Rimbaud adquire o hábito de escapar de casa desde muito jovem, para evitar a vigília de uma mãe controladora. Sua vida de passante começa em julho de 1870, quando foge para Paris, mas é resgatado logo na chegada, graças à intervenção de um de seus professores.
Em outubro, foge novamente, a pé, passando pelas cidades de Fumay, Charleroi e Bruxelas indo chegar a Douai. Durante essas caminhadas, Rimbaud escreve seus belos poemas.
Em 1871 está na “capital do século XIX”, acolhido pelo já consagrado poeta francês, Paul Verlaine, com quem frequentará as rodas da elite cultural parisiense e viverá grandes aventuras fazendo andanças por quase toda a Europa.
Em julho de 1872 os dois viajam para Arras, em setembro estão em Londres e três meses depois, Rimbaud volta à cidade de sua família, Charleville, atendendo a pedido de sua mãe. Em 1873, retorna a Londres, para reencontrar Verlaine, depois vai a Bruxelas e de volta a Paris. Em 1874, irá novamente a Londres e a França, de onde viajará a Stuttgart, Itália, Viena, Java, Suécia, Dinamarca e Hamburgo. Em outubro de 1878, vai a Gênova, de onde embarca, meses depois, para Alexandria. Depois disso, arranja emprego em Chipre.
Em 1879 está em casa de sua família, recuperando-se de tifo. Assim que tem uma melhora, viaja para a África, onde torna-se comerciante de café e, posteriormente, traficante de armas. Vai ao Egito e a Etiópia, fazendo uma travessia de vinte dias a cavalo pelo deserto.
Ainda irá a Áden, Hugadine, Somália, Etiópia novamente e Cairo, onde comanda uma caravana de duzentos camelos e três mil fuzis. Rimbaud permanece comerciante na África até sua morte aos 36 anos de idade.
Em abril de 1891 é hospitalizado em Áden, em decorrência de um inchaço no joelho. Retorna a França quatro meses depois e, em 10 de outubro é internado no Hospital da Conception, em Marselha, onde morre quatro dias depois em decorrência de câncer na perna.
Quando o andarilho Rimbaud morreu, no hospital em Marselha, o funcionário encarregado de seu prontuário de óbito escreveu no espaço destinado ao endereço: “De passagem” (Rimbaud não era da cidade).
Charles Nicholl, em seu livro, Rimbaud na África, lembrou que essa talvez tenha sido a melhor definição do poeta: alguém que parecia estar sempre de mudança, sempre de passagem, sempre solto, sempre fugindo do passado, da poesia e de si mesmo.
Faculdade de Letras / PUCRS